domingo, 16 de dezembro de 2007

Quem somos nós...


Lembro-me de que quando frequentava o ensino secundários os jornais apontavam o dedo para a minha geração e apelidavam-na de rasca.

Recordo-me de crescer à sombra da geração de Abril e sentir que já nada havia para fazer, que não havia espaço para grandes feitos, nem se queriam grandes líderes! Nada do que faríamos jamais suplantaria os grandes feitos da geração anterior, e portanto nada fazíamos, a não ser olhar para o nosso umbigo, para aqueles que connosco têm de socializar, que preenchem as nossas relações pessoais e profissionais, e tentar tornar o nosso espacinho ao sol o mais eficiente possível, reclamando abertamente contra o sistema, a burocracia e a corrupção.

Hoje li na entrevista à Marta Rebelo, publicada na Única do Semanário Expresso que, "O retrato que faz dos que, como ela, nasceram em finais da década de 70, inícios da de 80, está longe de ser simpático: "viciada no trabalho, egoísta (ou egocêntrica), tribalista, sobranceira, altiva, competitiva, consumista, depressiva, ansiosa, desenrasco-desconfiada"... sim, somos nós, tudo isso define uma geração em que me incluo e onde me esforço para lutar contra a maré: não gosto desta definição e aqueles que comigo trabalham sabem que valorizo acima de tudo a solidariedade e as relações humanas. Eu cresço enquanto pessoa quando vejo os outros crescer comigo.

E assim fiz amigos nos locais mais improváveis.

12 comentários:

Ervi Mendel disse...

A Marta esqueceu-se da característica principal: ainda se dão ao trabalho de escrever e/ou de ler o "Expresso" :P

E mais grave que tudo o que já foi referido é o facto de muitos de vós serem do FCP e gostarem de Radiohead, isso sim, coisas com as quais se deviam realmente preocupar :D

Ervi

CatDog disse...

Amigos nos locais mais improváveis?
A minha imaginação destemperada deu as mãos ao instinto cusco que herdei de uma tia-avó e dispararam os sininhos da interrogação inadiável:
define "locais mais improváveis"...
:-)

M disse...

Realmente, Ervi! Radiohead... que música boa para cortar os pulsos! A minha geração é uma cambada de depressivos que cresceram ao som de glam rock, grunge e indie rock! Shame on us!!!

Catdog, os locais mais improváveis são uma coisinha tão simples que vais ficar desiludido... fiz amigos a sério no local de trabalho: não são meros colegas.
Mas fiquei cheia de vontade de dizer que fiz amigo na prisão, na colónia balnear, nos corredores dos tribunais, nas catacumbas da judiciária... MAS NÃO É VERDADE! lol

CatDog disse...

No trabalho? Amigos no trabalho? Nunca vais chegar a chefe seja do que for, patinha...
E confesso que me sinto desiludido, sobretudo pelo parágrafo onde referes "a vontade de dizer que fizeste amigos em".
Se fazer amigos no trabalho já me parece impróprio, querer arranjar amigos nos corredores dos tribunais,ò pá, ò pá...
Eu aqui à espera de cenas tipo chocante, rasca mesmo, e ela afinal não ouviu grunge suficiente e anda-me a fazer amigos... no trabalho.
Qualquer dia começa a dizer que faz amigos na blogosfera...

CatDog disse...

(Estou a picar-te, a contar que reajas de forma desproporcionada para depois te estender o tapete e ficar como o coitadinho do vitimado pelo teu mau feitio. É um teste, como tínhamos planeado. Mas olha que prá próxima é sem aviso, pás!!!)

M disse...

Oh que me senti tão picada!

Eu sei que querias que dissesses que tenho amigos na metadona, outros presos por lenocínio, outros por ofensas á integridade física agravadas pelo resultado... mas não, não tenho amigos, só CONHECIDOS!

Amigos na blogosfera? Mas isso não é mito tipo o pai natal dá-te um presente se fores um booooooooom menino?

CatDog disse...

Como era uma primeira abordagem não afiei o ferrão, colega...
Mas não, não queria que me falasses de amigos criminosos (esses também podem ser considerados amigos "do trabalho"), mas de sítios marginais.
Imaginei-te a consolidar grandes amizades, sei lá, na sede de um partido político, num clube de futebol, ou até mesmo em ambientes mais desafiadores do senso comum nessas coisas.

E quanto à mitologia, acredito em unicórnios, em Baco e um bocadinho no Pai Natal. Amigos na blogosfera também já me parece fantasia a mais.

CatDog disse...

Qual é a diferença entre um amigo e um conhecido?

Hydrargirum disse...

Eu nem sei mto bem o que deva comentar daqui...pq se por um lado nós somos a geração rasca, isso é dizer o quê, da geração de hoje em dia?

Eu por default não sou aquilo descrito...mas consigo sê-lo...aliás consigo ser qq coisa...I just put my mind to it...

Mas, daí a catalogar e categorizar uma geração TODA daquela maneira, é um erro de sinédoque!

M disse...

Oh, amigos na fila da CGD, na senhora que vende castanhas, na dona da lojinha de incensos? Esses "amigos" que nos contam a vida toda na meia hora que nos demoram a dar o troco? Também tenho uns casos assim!

Acreditas em Unicórnios catdog? Eu tinha um pequeno pónei unicórnio quando era miudinha!

Ora pois: a bela dicotomia conhecidos/amigos.
Se os amigos se contam pelos dedos de uma mão... os conhecidos são todos os outros! Qual é a tua definição?

Hydra-mate, as generalizações não passam disso mesmo: ver o particular pelo geral. Isso não significa que sejam todos rasca! Eu não sou, nem nenhum dos caros colegas! :D

mik@ disse...

bem que dizer... As nossas lutas hoje em dia são outras e não precisamos derrubar governos ditatoriais... mas podemos e devemos dar cabo do sr. zé Socrates! Hoje em dia luta-se por um emprego, por ter dinheiro pra comprar o que queremos e conseguir pagar una quantos emprestimos.
Não se pode comparar gerações. Cada uma tem as suas lutas

Maga disse...

"viciada no trabalho, egoísta (ou egocêntrica), tribalista, sobranceira, altiva, competitiva, consumista, depressiva, ansiosa, desenrasco-desconfiada"
com excepção ao desenrascanso, não sou nada disto! será por ser do início de 70???